terça-feira, 22 de junho de 2010

VISÃO

Para Adelaide Petters Lessa


Meu olho atinge o Infinito
vendo o que ninguém mais vê.
A pálpebra do abismo se desloca,
a retina do silêncio vibra,
a circunferência da pupila se dilata,
nada mais é o que havia sido;
atingindo as eras,
estendendo-se aos domínios do numinoso,
num gesto tão amplo
que desfaz o estranho e a tudo torna
aquém do estrangeiro.
Meu olho surpreende
o mais antigo Mistério,
contempla a Forma
que vai além de todas as formas,
sonha e suspira
por um ainda mais além
e alcança o âmago
das coisas inencontradas.
Então retorna
e mais ainda descreve
ao Sonho o que este
nunca ousou.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

MORRER II

MORRER
agora e sempre
como quem consulta
a ostra
e sabe ser

concha vazia
sobre

a praia.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

MORRER

Morrer
em tão completo silêncio
que o silêncio mesmo
não me reconheça,
sem adeus,sem gesto,sem palavra,
num tão simples abandono
que o próprio abandono
cerre as pálpebras,discreto.
Sem lamúria,sem lamento,
que se faça o morrer
por inteiro e aceito
com a sobriedade
de quem o acata e acolhe
sem ânsia nem reserva
e enfim retorna
à casa do Nada.

domingo, 13 de junho de 2010

ARQUITETURA DO DESFAZIMENTO II

Desfeita,
a vela-apenas-sebo
reconstitui
a não-vela,
tão anterior
que desobedece
à sina das coisas.