sábado, 29 de novembro de 2014

Poema: NUVEM

Suspensa no ar
mais que mera imagem
ou sopro de vertigem
mais que é ou possa estar
tudo nela irá verter
(aquilo que foi compondo
enquanto não era quando)
tudo que tem ou possa ter

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Poema: AROMA

O instante desmemoria
as palavras.

A amnésia
repõe
o sumo.

O poema
é o extrato
dos alfabetos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Poema: MARES

As águas beijam
murmúrios e memórias
reescrevendo
vazios e formas
em líquida escrita.

O mar espraia
sua biblioteca
nos confins do mundo
esperando
por mergulhadores
que leiam
o seu acervo de mistérios
nas linhas incertas
da correnteza
enquanto marinheiros
navegam
no abismo insondável
do silêncio das marés.

(foto  Google Images: Ilha de Fernando de Noronha-Brasil)

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Poesia

O horizonte molha
seus lábios
nas águas do esquecimento.

O vento imprime
as palavras
nas brumas da memória.

A flor fertiliza
o instante
com o pólen da poesia.

(foto de Cleber Pacheco)


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Poema: ANATOMIA

(UM POEMA DO LIVRO:).

É rara a retina
para conter corpos,
é funda a mina
que engendra mortos.

É rasa a retina
isenta de miséria,
é rica a ruína
se fez memória.


domingo, 23 de novembro de 2014

Poema: PEIXE

Um peixe vazio
não é um peixe,
é não-peixe,
mergulho
no abismo
do nada.

Um não-peixe nada
no vazio do oceano;
com não-escama
invade o líquido,
imensidão do aquoso.

Um explorar que vaza
e fecunda
oceano e forma
a sangue frio e nado.

(Google images)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Poema: A ARTE DO IKEBANA

Repondo
a flor,
respondo
à cor.

Prevejo
o gesto,
revejo
o resto.

Preparo
a norma,
reparo
a forma.

(foto de Cleber Pacheco)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Garota indiana

Olhos de felino
desarmando segredos.

Ela sabe brandir
a adaga da emoção
no arsenal dos sentimentos.

(Foto: Google Images - Rani Mukherjee,atriz da Índia)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

PÃO

O silêncio fermenta
o pão da palavra
a ser levado
 ao forno da poesia.

sábado, 15 de novembro de 2014

ENIGMAS

TROCAS

A mulher do padeiro encontra a mulher do coveiro. Trocam receitas de bolo,de chás caseiros, pontos de tricô.despedem-se. A mulher do coveiro vai para casa preparar o café da manhã para o marido.A mulher do padeiro encontra-o morto.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Augusto dos Anjos

No dia 12 de novembro de 1914 falecia o poeta Augusto dos Anjos.

INSÂNIA DE UM SIMPLES

 Em cismas patológicas insanas,
É-me grato adstringir-me,na hierarquia
Das formas vivas, à categoria
Das organizações liliputianas;

Ser semelhante aos zoófitos e ás lianas,
Ter o destino de uma larva fria,
Deixar enfim na cloaca mais sombria
Este feixe de células humanas!

E enquanto arremedando Éolo iracundo,
Na orgia heliogabálica do mundo,
Ganem todos os vícios de uma vez,

Apraz-me,adstrito ao triângulo mesquinho
De um delta humilde,apodrecer sozinho
No silêncio de minha pequenez!



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

VER

Entre
 o ver
e o visto,
quem vê.

A imagem
vestida
em vertigem
no âmago
do avesso.

Côncavo
e convexo
na síntese
da retina.

(Foto de Cleber Pacheco)


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Sussurros

Quando criança,
soltava os peixes
depois de fisgá-los.
Antes de devolvê-los
à água, porém,
sussurrava:
"Por favor,ensinem-me a nadar."

domingo, 9 de novembro de 2014

ROMANCE

O livro já está pronto e disponível.
Para adquirir,basta acessar o link abaixo:
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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Cecília Meireles

Homenageando a poeta Cecília Meireles,um poema de sua autoria.

ASSOVIO

Ninguém abra a sua porta
para ver que aconteceu:
saímos de braço dado,
a noite escura mais eu.

Ela não sabe o meu rumo,
eu não lhe pergunto o seu:
não posso perder mais nada,
se o que houve já se perdeu.

Vou pelo braço da noite,
levando tudo que é meu:
- a dor que os homens me deram,
e a canção que Deus me deu.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

INSTANTE

A discrição da flor
no instante
da sombra.

A discrição da sombra
no átimo
da claridade.

A indiscrição
do instante
no lusco-fusco
do ocaso.


.

(foto de Cleber Pacheco)

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Primavera

Toda
a água da chuva
caiu
no pote de cerâmica
trincado.

As flores ainda
tentam
descobrir
o que é a primavera.

domingo, 2 de novembro de 2014

Poema : A Arte do Origami

Na dobra
está o mundo
que desdobra
o fecundo.

Anuência
 do intervalo
em demência
de fosso e valo.

Descoberta
do ventre
na cova incerta
do sempre.

(foto de Cleber Pacheco)

sábado, 1 de novembro de 2014

TRECHO DO NOVO ROMANCE

"Trouxe,o encontro com a Morte, uma oportunidade outra de decodificação.Encarou-a sem temor,interessado em desvendá-la,conhecer aquilo intimamente,descobrir seus segredos até tornar-se cúm-plicede todas as suas especificidades.
   Ao menos se tratava de uma experiência ,uma espécie de alento naquela desolação onde se encontrava.
   Não se queixou a Morte de tal invasão,nada alegou. Deixou-se possuir,deliciada com tamanha atenção."