domingo, 28 de fevereiro de 2016

OS ANCIÃOS - Capítulo 1

 Hoje  publico o início de uma história no gênero fantasia. Espero que  apreciem.Minha intenção é publicar dois trechos semanalmente,se houver interesse por parte dos leitores.


OS ANCIÃOS 

 CAPÍTULO 1

 

O antigo povoado de Sadira  tinha como marco central um  Templo circular   completamente abandonado. Assemelhava-se a uma torre de doze andares inteiramente escavada na rocha. Como o restante das obras realizadas pelos habitantes locais, era de cor ocre, com a diferença que as moradias encontravam-se ocupadas por famílias e ali ninguém ousava entrar há muito tempo ,diziam. Apesar de impressionante e ainda apresentar muitas de suas características originais, causando grande impacto por sua imponência e beleza, estava decadente e esquecido. Em vez de motivo de orgulho e ambiente de culto, tornara-se, na verdade, um estorvo. Nenhum morador prestava-lhe a menor atenção. Havia quem criticasse as dimensões e até mesmo a presença de algo tão extravagante justo no meio do lugarejo e havia também aqueles que afirmavam ser um antro amaldiçoado repleto de velhos espectros. O fato é que, por diversos motivos, ele jazia inerte como um corpo morto e inútil, uma carcaça hostilizada por todos.
   Ao surgir, o Grande Sol sobre ele incidia diretamente, tornando-o ainda mais ocre, dotando-o de um assombroso aspecto, realçando suas formas. Em tais momentos tornava-se impossível ignorá-lo, exercendo um ma-cabro fascínio ao passante ou a quem, por acaso ou descuido, o contemplasse.
    Ao redor, em espiral, distribuíam-se as habitações das famílias, sólidas, retangulares, formando com ele um contraste.
   Outro local marcante,  mas totalmente em ruínas e de modo idêntico relegado ao ostracismo, era a  Biblioteca.Dividida por colunas e formada por três alas distintas, guardava arcaicos manuscritos condenados à deterioração e ao pó. Ao contrário do templo, ficava retirada, situando-se na parte sul da cidadela, região igualmente evitada pelos moradores.
   Diziam existir ali um milhão de escritos decompondo-se sem piedade. Quem os produzira ou se dera o trabalho de elaborá-los, nenhum homem ou mulher seria capaz de dizer. Por ter se tornado refúgio de animais, a Biblioteca era considerada perigosa. Aliás, as informações a respeito dela limitavam-se  a isso.  O conteúdo de tantos manuscritos era algo solenemente ignorado. Se um viajante, por particulares motivos, passasse por Sadira, sem dúvida ficaria espantado com mais aquele empreendi-mento “exótico”.
   A desproporção do Templo e da Biblioteca com o tamanho do lugar ficava visível. Poder-se-ia especular qual motivo levara alguém – e neste caso, quem? - a preocupar-se em realizar tais construções num ambiente  insignificante e atrasado como aquele. Parecia um completo despropósito, obra de um louco.
    Não era tudo, porém.
   Na ala norte  ficavam  As Cavernas, onde era proibido,sem exceções, ir.
   A leste, o Grande Vazio.
   Restavam apenas, a oeste, As Plantações, onde os filhos dirigiam-se a fim de levar o almoço aos homens, enquanto as esposas cuidavam das tarefas de casa. Cabia aos jovens de até dezenove anos entregar o alimento a cada pai ali presente. Desta idade em diante eram obrigados a iniciar o aprendizado de como  arar ,semear e cuidar corretamente das plantações e da colheita ou das casas. Nenhuma outra atividade existia além dessas.  Cuidar da alimentação e da moradia resumia a vida de todos os habitantes de Sadira.
   Era para aquela direção que, poucos instantes antes das doze horas, carregando a vasilha com comida preparada por sua mãe, que ia Lelliah.

                                         
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sábado, 27 de fevereiro de 2016

POEMA


Vastidão de areia e lodo,lodo e areia, descontornos do vasto.
Punhados que se desfazem.
Porções que se moldam.
Grãos,torrão.
Repetir no desalinho, uma arte, bem sabe o inconveniente.
Ausência de fósseis, um outro testemunho.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Poema: Caverna-Capela (Altamira- Sistina)

Onde a cavidade mora
um homem mira
nascendo carícia
ou certa astúcia
do que repara
a coisa pura:
outra coisa
será a lousa
- quando riscada
é face invertida:
se tem inconstância
a consistência
conta-se no engendrado
a metade e o dobrado


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

VOO

Alçar voo
é o desafio
de redimensionar o chão.

( foto: Google imagens)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

ILUSÕES PERDIDAS de Balzac

 Li pela primeira vez o romance Ilusões Perdidas de Honoré de Balzac quando eu tinha 14 anos. Foi o primeiro contato com o autor. Um excelente começo,diga-se de passagem. Uma releitura era necessária.E confesso que estou gostando ainda mais, agora que tenho condições de realizar uma compreensão muito mais elaborada do livro. A leitura ainda não terminou (estou na página 300),mas não resisti à ideia de fazer um comentário. Se os escritores podem exibir um Work in Progress , os leitores podem fazer uma Reading in Progress. Se isso não existe,acabei de inventar.
   Penso que todo aspirante a escritor deve ler Ilusões Perdidas.  É uma obra notável Descreve e analisa todas as etapas vividas pelos aspirantes à carreira literária: a ingenuidade inicial, o desconhecimento de como esse mundo funciona, as descobertas e decepções, os exploradores que querem enriquecer à custa dos escritores principiantes.
   É admirável também o contraste feito por Balzac entre a província e a cidade de Paris. Em Angoulême há maldade e intriga. Em Paris, há pura crueldade. A transformação sofrida por Lucien e a senhora de Bargeton é um exemplo do talento literário do autor. O choque causado pela mudança de ambiente irá influenciar decisivamente o destino dos dois personagens. Preocupada sobretudo com a própria reputação, ela abandona seu pretendente sem o menor escrúpulo. Lucien arranja uma paixão instantânea por uma senhora de sociedade  mais útil às suas ambições, pois ele não passe de um arrivista com cara de anjo.
  A trajetória será alterada ainda mais graças ao caráter fraco de Lucien, que busca sempre o caminho mais cômodo e rápido para realizar suas ambições.
   Enquanto isso, podemos acompanhar todo o cenário cultural da época, as disputas entre grupos de intelectuais (clássicos e românticos) ,ascensão do jornalismo, um pretenso substituto do trabalho do escritor e já totalmente corrompido à época.
   Ansioso para prosseguir a leitura e concluir este breve comentário.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Floresta

Os pântanos
não impedem
minha travessia.

(foto: Google)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Poema

Um peixe exato
o que seria?
Um peixe ajuste
ou outra coisa,
um peixe outro.
A esse peixe
nenhuma moeda
ou compra.
A esse peixe,
nenhuma forma
ou forno.
Ao peixe exato
resta
o irreconhecível.
Daí a exatidão.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

DOZE ANOS DE ESCRAVIDÃO de Solomon Northup

    Não  vi o filme porque preferi ler o livro primeiro. Talvez ainda assista ao filme. Penso que o relato escrito com as memórias de quem passou por experiências tão marcantes seja mais intenso.
   Talvez  pareça que o livro Doze Anos de Escravidão valha apenas como documento histórico e seja datado. No entanto penso que o texto tem valor por outro aspecto: como fruto de uma vivência humana, vinda de um homem de espírito forte,inteligente e sagaz. Além disso, sabemos que a escravidão não acabou. Ela apenas adquiriu novas formas, que continuam se caracterizando pelo desrespeito e pela crueldade. A escravidão moderna é tão monstruosa quanto a de outras épocas.
   As diversas situações vividas por Solomon despertam o nosso interesse e nos fazem acompanhar com tensão e expectativa o desenrolar dos acontecimentos. O livro consegue ser um bom retrato de uma época e desenvolve suficientemente os tipos humanos que a compõem. Faz pensar e chega aos sentimentos do leitor sem ser piegas.
   É uma boa dica de leitura.
 
 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

FRIO

A neve paralisa velhas árvores.
O silêncio é um fruto de gelo.
A antiguidade da morte cristaliza
asas de corvos congelados.

( foto:  Google imagens)


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

DOUTOR GRASSLER: MÉDICO DAS TERMAS de Arthur Schnitzler

   Sou frequentador assíduo dos sebos.  Leio aquilo que me interessa. A gratificação é encontrar bons livros e bons preços. Além disso, não me preocupo com modismos literários. Leio tudo o que  desperta,por algum motivo,  meu interesse.  Tive a sorte de  adquirir o romance do escritor austríaco Arthur Schnitzler Doutor Grassler: Médico das Termas  de quem eu já havia lido a obra-prima Breve Romance de Sonho. 
   O autor foi contemporâneo de Freud e gostava de retratar seus personagens como objetos de estudo, quase como casos clínicos que deveriam ser estudados. O personagem em questão revolve-se num mar de indecisões e pequenos conflitos delas decorrentes. Tudo o que exige esforço, força de vontade e caráter lhe causa embaraço, procrastinação e uma atitude de fuga. Grassler prefere sempre o caminho mais cômodo, mesmo que isso o conduza a ter uma vida insípida e solitária. As personagens femininas é que tomam as iniciativas e acabam por desencadear a ação da história. Sem elas, o médico estaria fadado a uma existência monótona e quase desprovida de sentimentos. Ou sempre oscilando entre uma incerteza e outra.
   A narrativa é breve, interessante e envolvente. E se trata de mais uma obra de qualidade de Schnitzler.
 
   

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Arcabouço

De água e pedra
se nutre o vivo,
no assimétrico
também se sustenta.

Nem sempre o tempo
rumina a folha,
às vezes  o ocaso
não recusa a manhã.

 Pedra e água
reparam o vivo
com pétalas mudas
de desamparo.

( foto: Cleber Pacheco)


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Fotografia

   Fotos de livros que fiz entre 2015 e  o início deste ano.






segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Poema

Poema publicado no jornal O Nheçuano de Roque Gonzales-RS.